Ontem, enquanto via mais uma exibição paupérrima, dei por mim a soltar aquelas manifestações habituais de repúdio pelos passes mal feitos e burrice simples dos jogadores encarnados. Os "Não acredito", "Como é que é possível", "És tão estúpido" ou os pés a bater no chão (como as crianças fazem, admito) sucediam-se espaçados e regulares. Depois, lembrava-me, e isto trazia-me alivio, que aquilo, tirando um ou dois, era a equipa de reservas, o que retirava, imediata e satisfatoriamente, a pressão ao evento deplorável que decorria à minha frente. No fim, estava aliviado por ter percebido um pouco mais de que massa é feita alguma da força laboral da equipa de seniores do Benfica. Não que não navegue ainda ao acaso (como todos os benfiquistas, aliás) no nevoeiro de Santos, mas houve algumas coisas que estão mais claras, pelo menos no que diz respeito aos suplentes e não convocados na época que se avizinha.
Tiago Gomes - A sua consistência durante toda a pré-epoca serviu para indicar que, além de ser fraquinho, é perigoso. E se eu disser que é uma grande vantagem para os nossos adversários tê-lo em campo (e não que lá está como um agente infiltrado do Porto ou do Sporting, talvez até dos dois) é só para não criar nenhum anátema dentro da minha cabeça do estilo Beto ou Moretto. Ele é naif, desastrado, desconcentrado e estou a ser simpático para além dos meus limites. Afinal, trata-se de um jovem e devemos ter cuidado. Não queremos que ninguém se suicide por causa das nossas palavras. Esperemos que tenha acautelado o seu futuro para o caso do futebol não resultar. Diego - Já desconfiava, mas o optimismo que habitualmente me inspiram as contratações feitas ao Fluminense resistia à ideia de que é lento, trapalhão e, acima de tudo, muito imaturo. A sua luta com Beto por um lugar no banco de suplente será antológica.
Marco Ferreira - O melhor que se pode dizer de Marco Ferreira é que é benfiquista desde pequeno e que defende de um modo sofrível. Em contrapartida, embora pareça ter um bom toque de bola, peca por uma certa falta de, não direi lucidez (porque não chega aí), mas de inteligência. Poderá ser alternativa a lateral quando os outros cinco remendos estiverem lesionados
Nelson - Temia que após a partida de Giovanni, o plantel ficasse carenciado de um jogador com características esquizofrénicas. Afinal, temos o Nelson, que pegou no legado do brasileiro e se mostra disposto a assumir o papel de Dr.Jekyll e Mr.Hide de serviço. Nelson está no mundo para nos lembrar que não há coisas certas na vida. Ora num jogo defende bem e só faz disparates na frente. Ora noutro ataca e cruza de uma forma sublime, chagando a fintar 7 jogadores de uma vez, e defende de um modo desastroso. Ou ainda junta os factores de uma maneira que nem sequer imaginávamos ser possível. Ora, esta dupla, tripla, quádrupla personalidade não ajuda ao coração do adepto. Um tipo pensa no Nelson como se pensa em chuva nos climas tropicais: nunca se sabe se vai acontecer ou não. Nelson é, assim, uma porta aberta para Alcides ser um titular descansado.
Beto - Dá sempre o máximo, que é sempre aquele pouco não suficiente a não ser que não haja alternativas. As suas insuficiências técnicas fazem-me corar. A sua dureza de rins só se compara à do Paulo Almeida. Que fazer com Beto? Deixá-lo no banco, espero.
Marcel - É complicado falar de Marcel porque é um jogador de características paradoxais. Perde e recepciona mal a bola, mas depois vai atrás de quem lha roubou e, fuçando um bocado, consegue ganhá-la de novo. Os adversários ficam espantados, os colegas ficam espantados e o adepto esboça um sorriso ao vê-lo avançar para a baliza ou a conseguir ganhar o cruzamento. E depois é isso, dos cruzamentos. O gajo cruza razoavelmente...Mas perdeu ontem para Mantorras e Fonseca (recuso-me chamar Kikin a um homem com um nariz daqueles e pronto). Porque, apesar de ter ganho, e muito bem, o lance a Fonte e de ter feito a assistência para o segundo golo, não marcou. E de um avançado espera-se que marque. Acho que poderia ser emprestado ou, o que seria melhor, se tivesse paciência para isso, aguentar motivado mesmo sendo não convocado de uma forma sistemática.
As surpresas foram a entrega de Nuno Assis, a confirmação da vontade de Paulo Jorge, a eficácia de Mantorras, mais um penalty defendido por Moretto. Destes espera-se que, sendo suplentes mais do que certos, possam constituir alternativas quando a equipa principal precise.
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