08/11/2010

Bipolar

Depois da derrota de ontem, no Porto, podemos afirmar com alguma segurança que o título correspondente à época 2010/2011 está entregue. O que é uma afirmação inusitada para se fazer à décima jornada, no princípio de Novembro. Mas a verdade é mesmo essa. Os dez pontos de avanço do F. C. Porto são margem mais do que suficiente para garantir a vitória na Liga. Por duas razões: porque está a jogar melhor e porque, se por algum acaso o infortúnio bater à porta e a forma da equipa descer, tem o “sistema” em stand-by, pronto a dar a necessária ajuda, como fez nas primeiras cinco jornadas do presente campeonato.
Mas como foi possível o Benfica chegar a este descalabro, depois da brilhante época passada? Sem entrar no”oito ou oitenta”, tão visceral no futebol, alinho três apontamentos que podem contribuir para a explicação.
Um.
Cada vez é mais claro que o jogo mais importante da época 2010/2011 foi o primeiro, o jogo da Supertaça com o F. C. Porto. Esse jogo devia ter sido encarado como a possibilidade de desferir uma estocada, quem sabe, final no dragão ferido da época passada. Na verdade, uma vitória do Benfica colocaria o nosso principal rival, sobretudo o seu treinador novo e sem curriculum, sob grande pressão, com o correspondente risco de destabilização da equipa. Era, portanto, fundamental apostar muito forte nesse jogo. Mas o que se viu foi precisamente o contrário. Jorge Jesus encarou o jogo da Supertaça como se fosse o último jogo-treino da pré-época e o resultado de tão displicente abordagem foi a inversão do ambiente conquistado com muita raça na época anterior: o F. C. Porto com a moral resgatada, o rolo compressor do Benfica travado. Depois veio o infortúnio (com a má arbitragem) da primeira jornada e a crise ficou, inesperadamente, instalada.
Dois.
A eleição de um ex-dirigente do F. C. Porto para a direcção da Liga, com o apoio claro do Benfica, demonstrou ser um enorme tiro no pé, desta vez da responsabilidade de Luís Filipe Vieira. Depois, à quinta jornada, o Presidente encarnado veio tentar emendar a mão e travar a descarada actuação do “sistema”. É verdade que os “casos” da arbitragem terminaram por aí, ficando reduzidos a números que podemos considerar normais, mas entretanto tinham passado cinco jornadas em que o Benfica foi muito prejudicado e o F. C. Porto muito beneficiado. Com arbitragens normais nas primeiras cinco jornadas o Benfica estaria hoje, mesmo com a goleada no Dragão e a superioridade futebolística que é preciso reconhecer à equipa de Villas-Boas, na luta pelo título, a não mais de três ou quatro pontos do líder. Luís Filipe Vieira, que um dia terá que explicar porque apoiou um portista para a direcção da Liga, borrou ainda mais a pintura quando, na ânsia de corrigir a mão, colocou em cima da mesa ameaças que tem vindo, consecutivamente, a não cumprir, lançado o descrédito sobre si e sobre o Benfica.
Três.
Ao que de bom tinha feito na época passada, com a equipa exibindo um futebol vistoso, goleando e “comendo a relva” até ao último minuto, Jorge Jesus acrescenta, agora, recordes, mas recordes negativos. Para já são dois: o pior arranque de sempre no campeonato e a maior derrota de sempre com o F. C. Porto, também para o campeonato. Junte-se a isto a incapacidade de aprender com os erros (ontem repetiu a receita já experimentada em Liverpool) e temos um treinador em crise. Onde nos vai levar esta bipolaridade futebolística de Jorge Jesus? O certo é que nada voltará a ser com dantes, entre ele e o Benfica. Fica, no entanto, a esperança que não demore a voltar a uma fase positiva.

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