É o inicio da noite desta quarta-feira 30 de Junho de 2004. Um homem de meia idade e uma criança de cerca de oito anos estão sentados no sofá da sala de uma vivenda nos subúrbios luxuosos de Copenhaga.
A luz do televisor ilumina as paredes. Estão a ver um jogo de futebol. Já se iniciou a segunda parte do jogo e Portugal vence por uma bola a equipa da Holanda, na meia final do Campeonato da Europa. O miúdo, que o pai há muito tenta incentivar a gostar de futebol, já vibrou com o golo de um jogador que ainda não conhecia, Cristiano Ronaldo. Agora, começa-se a desinteressar, levado pela ausência de mais golos.
E é no momento em que o pai, adepto do FC Copenhaga, vendo o filho a alhear-se, lhe pergunta se não gostaria de entrar para as escolas do clube, "para fazer desporto", que acontece o momento de magia.
Um jogador de vermelho, sobre o lado esquerdo, ainda antes da área holandesa, desfere um remate brutal em arco. A bola entra ao ângulo, deixando batido o guarda-redes holandês.
O miúdo abre muito os olhos, ao mesmo tempo que liberta uma exclamação. O pai dá também um grito de espanto. Ficam os dois a olhar as várias repetições em silêncio, num momento de assombro.
Fazem vários comentários e o pai aproveita para dizer ao miúdo que o nome daquele jogador, "Maniche", é uma alcunha posta por causa de um dinamarquês que jogava no Benfica quando este jogador, que marcou aquele golo, tinha a mesma idade dele. Acrescenta, com orgulho, que esse antigo jogador é agora um dos directores do FC Copenhaga.
O rapaz fica a olhar para ele durante uns momentos. Depois, tocado, talvez pela primeira vez na vida, pela magia do futebol, responde ao pai que quer começar a jogar futebol e se o pai o leva "para ver como é".
Num momento mágico, pai e filho sentem-se unidos por mais um laço. Tudo graças a um momento de um jogador português que teve a sorte de crescer num clube longínquo e grande chamado Benfica.
1 comentário:
Fantástico texto. Parabéns, uma "estória" capaz de reflectir como poucas a magia que nos atrai no futebol.
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